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Em audiência, professores do Paraná relatam a violência sofrida no massacre do dia 29

  Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior - ANDES-SN


Data: 06/05/2015

Em audiência, professores do Paraná relatam a violência sofrida no massacre do dia 29

A Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado realizou audiência pública, nesta quarta-feira (6), sobre o ocorrido no último dia 29 de abril, quando servidores estaduais do Paraná, entre eles docentes das universidades estaduais, foram violentamente reprimidos por policiais militares enquanto protestavam em frente à Assembleia Legislativa contra as mudanças na previdência do funcionalismo estadual. A alteração votada no mesmo dia retira dinheiro da previdência dos servidores estaduais para aumentar o caixa do governo.  A ação policial resultou em mais de 400 feridos por balas de borracha, bombas, gás de pimenta, ataque de cães, além da prisão de sete manifestantes.

Segundo o professor Hermes Leão, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Paraná (APP-Sindicato), essa foi uma tragédia anunciada desde a reeleição do governador Beto Richa. “Houve uma mudança de postura no tratamento das questões relativas aos servidores públicos estaduais, com o fim das reuniões e debates do governo com a categoria, o desmonte das carreiras e ataques recorrentes aos direitos dos trabalhadores”, afirmou. Leão citou o dia 12 de fevereiro como emblemático, pois os servidores ocuparam a Assembleia Legislativa do Paraná para evitar a votação do que classificado como “pacotaço de maldades”.

Cintia Xavier, representante do Sindicato dos Docentes da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Sinduepg – Seção Sindical do ANDES-SN) contou que cerca de 20 mil manifestantes se concentravam em frente à Assembleia Legislativa para acompanhar a votação do projeto. “O estado do Paraná é o que mais aumenta a arrecadação, o que vem acontecendo é uma má gestão dos recursos e nós, trabalhadores, estamos pagando por isso. É um confisco da poupança previdenciária. Nós só tivemos acesso ao projeto depois que ela já estava na assembleia, e foi votado a toque de caixa. Eles [o governo] mentiram dizendo que nos tínhamos negociado esse PL”, denunciou.

Marta Belini, diretora da Seção Sindical do ANDES-SN na Universidade Estadual de Maringá (Sesduem – Ssind), relembrou o histórico de violência contra professores pelos governantes do estado e relatou o episódio do dia 29. Segundo a docente, as tropas do governo cercaram os professores concentrados em uma praça,  no Centro Cívico, em ação que se iguala a conduta de manuais de guerra, e passaram a soltar bombas sobre os manifestantes.  “Em 1988, Álvaro Dias jogou cavalos nos professores. Em 2001, um dos deputados estaduais da época jogou uma cadeira em professor. Em 2015,  temos uma guerra”.  A docente ainda conclamou os professores a  não se calarem diante da violência que sofrem. “Mas uma coisa eu digo: eu lutei até o final. A dor é muito grande e não é na pele, na minha perna machucada. O pior é o ataque aos nossos direitos e ao nosso futuro. Eu tô na rua defendendo a minha filha, os meus netos”, completou.

Para Denny William da Silva, diretor da Associação dos Docentes da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Adunicentro-Seção Sindical do ANDES-SN), o governo do Paraná provocou o ocorrido ao não dialogar com a categoria e ter afastado os docentes das discussões. “Não houve diálogo. Não há democracia”. Ele apontou a retirada, com guincho, do carro de som da manifestação na madrugada do dia 27 para o dia 28, como uma tentativa de desestabilizar o movimento, além de outras táticas adotadas pela polícia para tensionar o momento.  “Havia movimentos que tropa fazia manobras com os cães e provocações dos helicópteros perto das barracas, demonstração clara de despreparo emocional de quem estava no comando da operação.”

Claudio Pereira Neto, Secretário-Geral do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) criticou o posicionamento da polícia na manifestação. Ele explicou que o papel da polícia não é o de violentar o cidadão, mas sim o de garantir a segurança e a integridade da população.  O representante da OAB lembrou o lema Pátria Educadora, defendido pelo governo Dilma Rousseff. “Não tratar com respeito e usar da truculência contra o professor e a educação é abrir mão do futuro do país”, disse.

Na plenária da audiência, muitos professores estampavam em seus corpos as marcas das agressões sofridas. Porém, eles não carregam apenas hematomas e cicatrizes na pele, mas sim cicatrizes nas almas, contou João Guilherme Corrêa, do Sindicato dos Docentes da Universidade Estadual do Paraná (Sindunespar SSind). “Eu chorei junto com muitos colegas, tem um colega professor que em pesadelos até hoje que o batalhão de choque está batendo no seu filho. Eu fui agredido na madrugada do dia 28, quando os policiais tentaram guinchar os caminhões de sons”, relatou.

Mary Falcão, diretora do ANDES-SN, agredida durante o massacre, cobrou dos parlamentares uma posição sobre o ocorrido. Para eles, o governador precisa responder sobre o massacre do dia 29 de abril. “Estamos lutando contra o descaso com a educação, não mascarem a nossa luta por meio da polarização política. Nós sofremos foi na pele, foi tiro, bomba. Que conceito de democracia que o estado do Paraná está tomando? O meu depoimento é de uma mãe, como mulher, professora, trabalhadora, eu não saí de casa para levar porrada. Eu mereço respeito”, disse Mary.

Antonio Bosi, da Associação dos Docentes da Universidade do Oeste do Paraná (Adunioeste Seção Sindical do ANDES-SN), reforçou a cobrança aos parlamentares. “Se nós estamos aqui hoje solicitando intervenção dessa comissão do senado, é porque o que aconteceu lá foi algo absurdo”. O professor questionou o representante do governo, enviado para a audiência, que culpabilizou os estudantes e alunos pelo massacre alegando a presença de black blocks. “Não é possível aceitar essas informações, essa teoria de que havia black block, porque as gravações provam o contrário. Havia minha filha de seis anos e outras crianças, pois a nossa expectativa não era aquela”, disse Bosi.

Imagens de ANDES-SN e Agência Senado

 


Fonte: ANDES-SN

 

Fonte: ANDES-SN

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